domingo, 25 de julho de 2010

Os dias da pequenez


Anteontem tive um dia de pequenez. Um dia de pequenez é aquele dia, que surge de vez em quando, em que, subitamente, me sinto demasiado pequenina face a alguma tarefa que quero desempenhar bem e acho que não vou ser capaz ou em que assisto a algo maior do que alguma vez teria capacidade de fazer. E é precisamente a este último caso que me refiro.
Anteontem pedi umas horas de dispensa do trabalho para poder ir assistir a uma dissertação de mestrado na minha faculdade actual (a FCSH da Universidade Nova), a conselho das orientadoras da minha tese, cuja defesa se aproxima a passos tão largos que é assustador só de pensar.
Não fazia ideia do tema da tese, nem de quem era a aluna/colega que ia defendê-la, mas lá fui. Chegada ao auditório, tive a grata surpresa de verificar que iria assistir a uma dissertação sobre teatro e, ainda mais grata, por saber que se debateria a peça "Long Day's Journey into Night", de Eugene O'Neill, que estudei e li mais do que uma vez, quando ainda estava a tirar a minha licenciatura noutra faculdade, neste caso, a Faculdade de Letras de Lisboa. Devo dizer que adorei ler a peça de O'Neill e, como tal, ainda mais interessada fiquei no que iria ouvir e ver.
E o trabalho a que assisti foi, a todos os níveis, fenomenal.
Senti-me pequenina, face a uma «miúda» de 23 anos (6 anos mais nova do que eu, portanto): quem me dera, daqui a dois meses, conseguir fazer uma apresentação pública daquelas e ter uma tese de tamanho gabarito. Bom, para ser sincera, se corresse metade tão bem como esta, já era bastante bom.
No final: nota 19. Muitas palmas para a mestranda, totalmente merecidas.
Quem me dera daqui a dois meses poder dizer o mesmo...

domingo, 18 de julho de 2010

Anúncios de emprego para rir até cair


Que a profissão de jornalista em Portugal é das mais desconsideradas e precárias (à semelhança dos tradutores, para mal dos meus pecados) já todos sabemos, agora gozar desta forma com as pessoas não me parece minimamente aceitável.
No site Carga de Trabalhos, que se dedica a empregos maioritariamente na área da comunicação social, design, marketing e afins apareceu o seguinte anúncio:

"Jornalista - estágio curricular (paris - frança)

Procura-se jornalista disponível para fazer um estágio de 1 de Junho a 15 de Julho em empresa detentora de web-tv, jornal e revista.

Exige-se:
- Conhecimentos de edição (Final Cut Pro)
- Carta de condução
- É conveniente o candidato ter pessoas de família residentes em Paris, onde possa ficar alojado
Oferece-se:
- Subsídio de deslocação (500€)
- Viagem para França (ida e volta)

Empresa: Lusopress.TV
Local: Paris, França
Tipo: Estágio - Curricular;

Contacto: Responda só se estiver dentro das condições exigidas. Contacto: lusopress@gmail.com."


Pois bem, uma pessoa vai 1 mês e meio para Paris, uma das cidades mais caras do mundo, para trabalhar para um canal de web-tv sem receber um tostão de ordenado. Tem de ter carta de condução (como o subsídio de deslocação é uma fortuna, não haja dúvidas), sobreviver de ar (sim, porque sem ordenado não há comida na mesa) e last, but not least (e esta é que me fez rebolar no chão a rir) tem de ter família em Paris para poder ter alojamento!
Divertido? Sem dúvida.
Devem ter sido tantos os candidatos a inscreverem-se para esta «oferta de emprego» (será oferta sim, mas não para o escravo que tivesse ficado com o lugar; sê-lo-ia para a Lusopress), que, dois meses passados, o anúncio ainda lá está.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Do pântano para o chiqueiro


Não sou de direita. Não gosto do CDS-PP. Não gosto da "persona" política de Paulo Portas, apesar de lhe reconhecer a inteligência, o talento para a oratória, para a demagogia e para a amnésia selectiva. Portas é daqueles políticos que quando apresenta uma ideia que até é teoricamente interessante (embora impraticável, pois já não faz parte do governo), borra, de seguida, logo a pintura ao apresentar mais duas ou três que não lembrariam ao Menino Jesus. Quer isto dizer, assim trocado por miúdos, que o amigo Paulinho das Feiras, quando enverga a boina e vai dar beijinhos nas faces de velhotas desdentadas e bacalhaus a idosos a jogar às cartas, daqueles que só tomam banho ao domingo, que é dia do Senhor, é um político que, como diria alguém que ficou para a história não se sabe muito bem porquê, «fala, fala, fala, mas não o vemos a fazer nada».
Portas é o político que chora que nem uma carpideira do anúncio da Aquarius pelas baixas pensões de reforma dos idosos portugueses e pela desprotecção dos desempregados, o que só se compreenderia se nos lembrarmos da quantidade abissal de assessores que contratou quando era ministro. Aí sim, acredito no seu contributo para a redução da taxa de desemprego, pena é que fosse apenas nas fileiras da juventude copinho de leite do CDS-PP. Foi também o ministro do escândalo de vários milhões de euros dos submarinos alemães, o que não deixa de ser irónico para quem nem sequer sabia que, para além de Ministro de Estado e da Defesa Nacional, era igualmente Ministro dos Assuntos do Mar.
Se já não se lembrarem do, para mim inesquecível, ar de estupefacção e susto de Paulo Portas na atabalhoadíssima tomada de posse do ainda mais atabalhoado governo de Santana Lopes em 2004 (que foi um ar que lhe deu), ei-lo em seguida:

Ontem, em plena sessão na Assembleia da República, Portas veio sugerir, qual Messias, a demissão de José Sócrates e a sua substituição SEM ELEIÇÕES LEGISLATIVAS por um governo de coligação entre PS, PSD e CDS-PP. De extrema-direita, portanto. Seguir-se ia, então, a lógica de que já que vivemos na República das Bananas mesmo, para quê desperdiçar tempo e dinheiro dos contribuintes com insignificâncias como democracias e eleições? Mixuruquices!
Com o governo de esquerda mais à direita de que há memória, este PS há muito que se escuda na crise internacional para ir cavando gradualmente a nossa sepultura e obrigar-nos a emigrar em debandada, como há 40 anos atrás. O problema é que, se no Estado Novo quem emigrava era miserável ou pouco mais que isso e ia, regra geral, para empregos desqualificados, hoje em dia a emigração de licenciados, mestres e doutorados em busca de melhores condições de vida, melhores ordenados e progressão na carreira é uma realidade bem presente. Não esqueçamos que Portugal é um dos países europeus com a taxa mais baixa de pessoas com curso superior (1 milhão), metade da média europeia, para ser mais precisa. Pouco faltará para que esse milhão se ponha a mexer daqui para fora a grande velocidade, deixando o país entregue ao compadrio e caciquismo semi-analfabetos do costume e no eterno limbo.
Não sou, também, de esquerda e nunca conseguiria vestir a camisola de nenhum partido político, mas estou longe de querer um governo de coligação dos supra-mencionados partidos. Entre o «pântano actual» (referido por Portas) do PS e o chiqueiro da coligação tripartidária (os termos aqui já são meus), prefiro continuar a tentar voar daqui para fora.
Oh amigo Portas, "porque no te callas"?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ah e tal que vou só ali gastar uns milhares e já volto


Não sei se já tiveram oportunidade de ver o novo anúncio televisivo do último modelo do Renault Mégane. Se não tiveram, da próxima vez que estiverem a ver televisão, começar a dar publicidade e pegarem rapidamente no telecomando para fazer zapping e verificar se a novela com nome de música do Paulo Gonzo/Santos & Pecadores/Pedro Abrunhosa/Rita Guerra (riscar o que não interessa) já começou, pensem duas vezes. Vale a pena.
Nele, um senhor que trabalha num stand de automóveis (a.k.a. um aldrabão enfatiotado) tenta descobrir o motivo do interesse de um cliente que quer comprar o novo Mégane. Se tem filhos? Não. Se quer um carro desportivo, mas que dê igualmente para a família? Não. Se tem um trabalho demasiado stressante e precisa de descomprimir à macho, ao volante de um potente modelo recheado de cavalagem? Não.
Então, qual o motivo para precisar exactamente daquele automóvel?
A resposta não se faz esperar: é que o cliente não precisa dele, mas quere-o. Ponto final.
Como se o disparate da coisa não fosse suficiente, o slogan da marca francesa para o dito modelo é: "Pode até nem precisar dele, mas vai querer tê-lo."
Ora bem, não me parece que comprar um carro, ainda para mais de gama média/alta, como o Mégane é, seja exactamente o mesmo que ir ali à feira de Carcavelos comprar um par de cuecas. Haverá, com certeza, pessoas para quem isso seja uma realidade, mas convenhamos que não o é para a maioria da população portuguesa (e não digo mundial, pois não sei se o dito anúncio passa noutros países com este mesmo conteúdo). Nos tempos que correm, de sobreendividamento, sufoco financeiro e descrédito das instituições bancárias e governamentais parece-me muito pouco inteligente apostar neste tipo de anúncios de puro desperdício. Não que não o fosse antes, evidentemente que sim, mas precisamente agora, afigura-se-me como um valente tiro no pé da Renault. E, se nos lembrarmos que a Dacia (o ramo low-cost da Renault, cujos modelos demasiadamente acessíveis, baseados em tecnologia do tempo da Maria Caxuxa, em que os "crash tests" eram inexistentes e que são fabricados pelos escravos modernos dos países em vias de desenvolvimento, neste caso, do leste europeu) estaremos a falar em duplo tiro no pé. Quem ainda não viu o anúncio da Dacia, em que um casal faz um test-drive num modelo da marca e, ao perguntar o preço do automóvel ao funcionário do stand, fica escandalizado com o baixíssimo preço de €15,600? "Só?", responde uma tiazona com ar de desprezo, "Nem pense que vamos comprar um carro tão barato!" E viram ambos costas, deixando o funcionário com a chave na mão e um ar perplexo.
Os asnos que conceberam semelhantes aberrações publicitárias ou vivem numa redoma e não têm a noção do mundo em que estão ou então querem conversa. Bad publicity is better than no publicity at all. Será essa a intenção? Se foi, estamos mal e se não foi, estamos pior ainda.
"I have a dream" dizia MLK. Eu também tenho: sonho com o dia em que tenha dúvidas sobre o que fazer ao dinheiro. Se hei-de ir comprar um par de cuecas ou gastar €30,000 ou mais num carro, só porque acordei para aí virada e moro pertinho do stand.
E, já agora, se não for pedir muito, uma fonte de chocolate Toblerone no meio da sala e um mordomo com a cara do Johnny Depp. Só porque sim.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Nas aspas da vida


Hoje a T. (de twin) reparou em algo muito pertinente, que, embora já tivéssemos reparado antes, nunca tínhamos comentado em voz alta. Mas ela fê-lo e em muito boa hora, há que dizer.
Sempre que se recebe um e-mail "outsider", cujo domínio difere do utilizado e cujo nome está na nossa lista de pessoas realmente importantes a quem se pode e deve enviar e-mails, o nome dessa pessoa aparece rodeado de umas belas ''. Significa isto que, quem se põe a andar e vai desta para melhor ganha, como que miraculosamente, umas aspas, sinalizando o facto de estar num sítio bem melhor, com menos chatices e, eventualmente, mais ordenado.
Sempre gostei de aspas, sobretudo destas, que persigo incessantemente há demasiado tempo, mais do que seria saudável.
Resumindo e concluindo: onde andam as minhas aspas? Ainda demora muito?

(Thanx, T.!)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ou há moralidade ou come... o contribuinte

Viva o Tratado de Lisboa! Viva o governo PS!

Viva os aumentos de impostos e a redução do subsídio de desemprego e da protecção social para pagar mordomias à corja do costume.