segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Algo está podre no reino lusitano


Na sequência de dois casos de prepotência política surgidos na passada semana, um envolvendo o ministro Alberto Martins e outro o ex-ministro Armando Vara, não podia o Ponta de Corno abster-se de os comentar.
Na semana passada, o carro ministerial de Alberto Martins, pago com os impostos de todos os portugueses, foi mandado seguir em grande estilo quando, na mesma rua lisboeta, uma ambulância aguardava uma idosa que sofria um ataque cardíaco na altura, para a transportar ao hospital. Face à difícil escolha entre deixar passar um ministro ou socorrer uma vida, a PSP tomou a decisão mais lógica: mandar a ambulância do INEM sair da porta da casa da senhora e estacionar noutro local para o Sr. Ministro poder passar, ignorando as mais elementares regras da sua própria função.
Meros dias antes, Armando Vara, ex-ministro PS, irrompera pelas Urgências de um hospital adentro, passando à frente de todos os outros utentes VERDADEIRAMENTE DOENTES, para invadir o consultório da médica de serviço e exigir um atestado médico (claramente falso), porque tinha um avião para apanhar, o que a médica fez.
Armando Vara é, na minha opinião, um dos ministros mais execráveis de que há memória (período do Estado Novo incluído) e o mais claro exemplo de arrivismo político. Sem qualquer tipo de qualificação superior, foi Secretário de Estado da Administração Interna (1995-97), Secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna (1997-99), conseguiu tornar-se ministro adjunto do primeiro-ministro, em 1999, e, um ano mais tarde, Ministro da Juventude e Desporto. Abandonaria, no entanto, esse mesmo cargo devido a irregularidades cometidas pela Fundação para a Prevenção da Segurança Rodoviária, por si fundada, processo que seria posteriormente arquivado.
Como qualquer ministro PS que se preze, foi convidado para exercer funções de administrador numa empresa pública, a Caixa Geral de Depósitos, mais uma vez, friso, sem qualquer tipo de formação universitária. A isto é que se chama dar o salto: de reles caixa a administrador, sem passar pelos bancos da escola. Eis o mais gritante exemplo do que está podre em Portugal e porque o país nunca irá encarreirar, enquanto este tipo de chico-espertismo for a norma que o governa.
À semelhança do amigo Sócrates, "concluiu" a "licenciatura" em Relações Internacionais (três dias antes da nomeação para a CGD) na extinta Universidade Independente, um antro de conluio governamental onde se tiravam cursos por fax.
Para melhorar as coisas, um mês e meio depois de ter abandonado a administração da Caixa Geral de Depósitos para assumir a vice-presidência do Banco Comercial Português, foi promovido, no banco público, ao escalão máximo de vencimento, o nível 18, o que terá reflexos para efeitos de reforma. Maravilha das maravilhas! Alguém que me explique, por favor, como é que um ex-funcionário de uma empresa, por pública que seja, é promovido ao escalão salarial máximo sem já lá estar a trabalhar. Adorava (mesmo) entender.
Vara foi, igualmente, acusado de recorrer ao director-geral do GEPI (Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações) e a engenheiros que dele dependiam para projectar uma moradia que construiu perto de Montemor-o-Novo. Em Outubro de 2009 foi constituído arguido no âmbito da operação Face Oculta, desencadeada pelo Departamento de Investigação Criminal de Aveiro. Seguiu-se, em Novembro do mesmo ano, a suspensão do seu mandato de vice-presidente do Millennium BCP.
Suspendeu em Novembro de 2009 as funções que desempenhava no BCP, renunciou ao cargo a 2 de Julho e recebeu 260 mil euros de indemnização! Se isto não é gozar com a cara de quem trabalha, não sei o que será.
Apesar da sua implicação no processo Face Oculta, tal não impediu que fosse convidado, em Setembro de 2010, para ser Presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa África, tendo assim a seu cargo as actividades da empresa brasileira em Moçambique e Angola, os costumeiros Eldorados nacionais.
Costuma dizer-se que à mulher de César não basta ser séria, há que parecê-lo. O problema é que os membros e ex-membros do governo PS, para além de não serem sérios, agora já nem sequer se dão ao trabalho de o querer parecer.