sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Taxista... mas pouco

Devo confessar que não sou grande fã de andar de táxi em Lisboa. Talvez pelas (demasiadas) más experiências que tive ou pelo simples facto de que todas as bestas quadradas que têm por profissão conduzir um táxi serem, precisamente, aqueles que me vêm calhar em sorte/azar. Já me aconteceu de tudo um pouco: desde taxistas a fazerem rali a 200 à hora, como se estivessem no autódromo do Estoril e eu não estivesse sentada no banco de trás, a senhores que além de conduzirem demasiado depressa gostam de fazer razias aos outros condutores enquanto berram impropérios, seja na estrada ou a estacionar, como que a mostrar a sua parca virilidade sebosa, taxistas ucranianos a operar no centro de Lisboa, que não sabem onde estão nem para onde vão, taxistas de idade avançada a mandar vir comigo muito indignados porque tive a terrível ousadia de lhes pedir uma factura quando ainda não tinham estacionado o carro no destino. Houve um até, aqui há uns anos, que me assustou de tal forma que nunca mais vou esquecer. Apanhou-me no Parque das Nações, depois de uma noitada entre amigos, já de madrugada, e veio o caminho todo, que ainda foi longo, a fazer-se a mim e a convidar-me para ir sair com ele e beber uns copos. "Paniquei". Estava sozinha e o assédio foi de tal ordem que vim o caminho todo de telemóvel na mão pronta a ligar à PSP ao mínimo sinal de alarme e cheguei, até, a inventar um marido (ou noivo, já nem sei bem) inexistente à data, que estaria à minha espera em casa, embora ninguém lá estivesse. Mas aquilo que me irrita mais, que me tira do sério até dizer chega, são os taxistas que não sabem o caminho e me perguntam, com a maior das latas: "então e como é que quer ir para lá?". Pensava que isto só acontecia em Frankfurt, onde todos os taxistas são useiros e vezeiros a fazê-lo e, ainda por cima, são pagos a peso de ouro. O preço é de ouro, mas o serviço de pechisbeque, entenda-se. Curiosamente, no meu trabalho como tradutora, nunca perguntei ao cliente "Então e como é que quer que eu traduza? Quer assim, assado, cozido ou frito?", porque parto do princípio, absolutamente palerma, de que é suposto saber fazer o meu trabalho, até porque estudei 20 anos da minha vida para isso. Picuinhices! Ora se eu entro num táxi é porque, à partida, preciso de ir a algum lado e não tenho outro meio para o fazer, pelo que, confio que um profissional o faça. Erro crasso, evidentemente. Passo a reproduzir o diálogo que se estabeleceu entre mim e a senhora taxista com ar de toxicodependente que me apanhou há pouco: "É para a Quinta Barros, na Rua X.", digo eu. "Quinta Barros?", pergunta muito surpresa, como se eu tivesse dito que era para me deixar ali no Burkina Faso. (A rua ficava a 5 minutos ou menos de onde nos encontrávamos, dependendo do grau de competência do condutor.) "Sim, nessa zona, na Rua X.", digo. One million dollar question: "Então e por onde é que quer ir?" (Tchanã! Pimbas, toma lá!) "Não importa. Desde que chegue lá.", respondo já com vontade de lhe espetar uma chapada nas trombas. "Quinta Barros? Quinta Barros? Pois, é que isso, não sei... Isso é ali pelo Hospital de Santa Maria, não é?" (A vontade de lhe ir ao trombil aumenta.) "Sim, é perto, mas fica mais perto das Torres de Lisboa. É a Rua X.", insisto. "Ahhhhhhh, pois não sei. Então, podemos fazer assim? É que podemos ir por ali, por ali ou por ali. Como é que quer fazer?" (Nem respondo, tal não é a minha indignação.) "Podemos então ir pelo Hospital de Santa Maria e depois logo se vê." (O GPS está colado ao vidro no táxi, mas só agora a senhora parece ter-se apercebido de que ele existe. Começa a teclar o nome da rua, enganando-se no dito, como já esperava. Bufo de impaciência, mas como tenho pressa e não há mais táxis à vista, não tenho remédio se não aguentar a provação e esperar.) "Isto é só para me certificar de que estamos a ir bem, porque eu estou a ver a zona, sim.", diz ela, fingindo que conhece o sítio. (Claro, e eu sou o Pai Natal, penso.) "Então e quando vai para lá, como é que costuma ir?", pergunta a senhora taxista. (Sem comentários.) Aproximamo-nos, por fim, da zona, embora ainda não seja ali. "Pronto, chegámos.", afirma, orgulhosíssima. "Não, não chegámos.", respondo. "Não é aqui." "Então mas a rua é aqui e devemos estar a chegar ao número da porta que disse." "Não, nem é esta a rua nem vejo nenhum número 28 aqui." "Ah, então espere lá. Vamos experimentar ali. (Pergunto-me para que servem os GPS e se, de facto, seguiu as instruções dadas.) "Então é aqui.", continua. "Não, também não é aqui.", respondo já enfastiada de mais para o esconder. "Então vamos ali." "Mas não é aqui!", digo, tentando manter a pouca calma que me resta. "Pois, mas vamos por aquela rua de dentro, como eu disse." Mais uma vez, para na porta errada. "Pronto, estamos aqui no 31, 29... Então é aqui.", afiança. "Não, aqui são números ímpares e eu quero ir para o 28, por isso tem de ser do outro lado!" "Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!", responde muito admirada. (Alguém explique à senhora que, na maior parte dos países civilizados, incluindo Portugal, os pares e os ímpares ficam em lados opostos da rua e não lado a lado.) Finalmente chegamos. Nem quero acreditar. Haja pachorra!